• TUDO SE RESUME EM RUÍNAS

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    A vida é um jardim em ruínas. Flores sempre parecem mais bonitas pela manhã, do que ao cair da tarde. Passado o êxtase provocado pelo desabrochar das pétalas esplendorosas, as tais flores que antes representaram o nascer duma nova esperança, agora retardam as alegrias, caracterizando, com um toque melancólico, o fruto de uma jornada frustrada. Quando o sol se põe e a caliginosa noite debruça-se sobre sobre as campinas outrora lotadas de doces encantos, as flores tão virtuosas, que iluminaram durante todo o dia a paisagem ali desenhada, se fecham em ingênuos botões, não parecendo mais ostentar o brilho notório da manhã passada.
    Contemplar o amor, em todos os seus atributos particulares, por vezes pode parecer encantador. Observar dois amantes pode ser como contemplar um jardim florido no ápice de seu esplendor. No entanto, eventualmente, esse brilho da manhã se esmaece, dando lugar ao gélido silêncio da noite. Um silêncio mortal, capaz de, como uma lâmina cortante, despedaçar o que quer que seja que se ponha em seu caminho. É aí que a granada explode; e então, todo o encanto se quebra, como um cristal de gelo numa sólida rocha.

                                                                                                                     Lídya Monteiro

    E em cima de tudo que traz "certeza", você constrói os seus castelos. Depois, percebe que não passavam de Castelos de Areia prestes a se transformarem em ruínas pela maré avassaladora.




  • Minha Mente e a Exaustão...

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    Passos curtos;
    Sussurros;
    Em um intervalo de tempo nulo;

    Não consigo seguir;
    Estou suplicando;
    Minha mente não esta aguentando;


    Meu corpo esta acordado;
    Na verdade intacto;
    Porém não faço ou desfaço;
    De um simples ato;

    Certa vez, ouvi de um mestre;
    Que o pior cansaço;
    Não é aquele que te faz exausto;
    E sim o que não te deixa se esforçar;
    Para pensar e até mesmo raciocinar.

                                                                                                                
                                                                         Gracy Kelly.
  • Conclusões Comparativas do Medo

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    O que estava acontecendo comigo? Sentia que meu coração iria parar e subir pela minha laringe, até sair pela minha boca. Que nome poderia dar aquele sentimento que envolvia meu corpo como uma nevoa gélida de inverno, fazendo-me tremer mais do que um camelo na Antártida?
                    O tempo passava. Meu coração batia mais do que as baterias das escolas de samba no carnaval. Naquele momento, minhas pernas travaram como se tivessem criados raízes naquela madeira úmida. O único estímulo que meu cérebro mandava era o de ficar parado e esperar o pior, mas o que meu corpo queria era correr sem rumo pela casa.
                    Cada vez mais a madeira rangia incessantemente e aquele barulho se aproximava rapidamente na minha direção. Engoli a saliva que tinha na minha boca e sem pensar corri para longe daquele pesadelo. Todavia, parecia que quanto mais eu corria, mais o corredor da casa aumentava, como se quisesse impedir-me de fugir. O rangido ficava mais próximo a cada passo que eu corria, até que chegou tão perto que a única reação que me sobrou foi fechar meus olhos e gritar, mas gritar tão alto que só chegasse a ouvir apenas o meu grito. Entretanto já era tarde. Aquele sentimento já tinha tomado conta de mim totalmente e então...  TRIMMMMM.
                    - Bom crianças, agora está na hora de irem para casa. Amanhã continuaremos a história.
                    Nesse dia fui caminhando para casa imaginando o sentimento que aquele garoto estava sentindo. Cheguei em casa e contei a história a minha mãe, que me revelou o que o garoto estava sentindo: medo. Porque aquele sentimento causava aquilo, destruía cada vez mais a coragem daquele individuo.
                    Cheguei à conclusão de que o medo era uma porcaria. Uma merda que só prestava para atrapalhar a coragem. No outro dia fui para a escola com o objetivo de perguntar a professora o que era esse medo e porque ele acontecia. Logo na primeira oportunidade, perguntei:
                    -Professora por que o medo é tão ruim? E por que sentimos ele?
                    Com um olhar meio assustado, a professora virou-se para mim e disse:
                    - O medo é realmente algo formidável. Se não o tivéssemos, nunca teríamos receio de cair,ou até mesmo de tomar um veneno. Quando uma cobra cascavel sente-se ameaçada ,a primeira coisa que faz é balançar seu chocalho, com a intenção de afastar a ameaça. Mas na verdade, esse balançar é só um sinal de que ela está com medo. Logo, podemos ver que o medo pode ser uma forma de defesa, ou até mesmo de precaução. Caso você goste de filme de terror, já sabe que o medo pode ser excitante, contudo o medo também pode ser muito ruim. Se você tem um medo muito grande, pode acabar fazendo com que ele se torne uma fobia.
                    - Mas o que é uma fobia?
                    - Fobia é um temor intenso e persistente. Quando você vê uma aranha, por exemplo, e fica com medo a ponto de desmaiar, isso pode ser uma fobia. Entretanto existem medos específicos para cada pessoa. Nós que moramos no Brasil, não temos medo de furacões, pois não convivemos frequentemente com isso, portanto não o consideramos uma ameaça , ao contrário das pessoas dos Estados Unidos, que têm medo de furacões por os encararem constantemente. E então, o que você compreendeu do medo?
                    -Bom, vou falar comparativamente. Se um dia o sol não existisse mais, só nos restaria a escuridão total e simplesmente teríamos que nos arriscar no escuro. Porém ás vezes, nas noites, surgiria a lua para que, por alguns instantes, pudéssemos ver na escuridão. Contudo, em algum momento essa lua iria embora, nos restando novamente a escuridão; e no final das contas, iríamos vagar sem rumo, até que em um momento chegasse a hora de morrer ou então conseguíssemos sobreviver. Ou seja, se um dia o medo não existisse mais, iríamos deixar de ter, ou fazer, as coisas que tínhamos medo, porém uma hora, iria surgir a dúvida que nos faria pensar: ” Será que realmente devo fazer isso?”, mas já que o medo não existiria mais, consequentemente iríamos fazer, e uma hora íamos acabar sofrendo as conseqüências, que seria boas ou ruins.
                   
                                                                                    Carlos Átila e  Lídya Monteiro
  • Sobre a independência

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    Alguns diriam paz,
    Eu diria ilusão.
    Talvez seja este
    O futuro da nação.

    Alguns diriam liberdade,
    Eu diria escravidão.
    Talvez oculta perfeitamente
    Em uma falsa união.

    Alguns diriam: completa,
    Eu diria simbólica.
    Ou completamente
    Imposta.

    Tal ousada independência,
    Que escraviza multidões.
    Chicotes enfeitados
    Açoitando aos milhões.

    Tal ousada independência,
    Que simboliza a paz
    E impõe grades
    Para que, finalmente,
    Opiniões não existam mais.

                 ~~Beatriz Sousa~~
  • Calei-me

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    Senti...
    A felicidade da tristeza,
    A multidão do vazio,
    O desapego da avareza,
    O calor do frio.

    Ouvi...
    A música dos surdos,
    As frases lúcidas de um bêbado,
    O grito alto dos chulos,
    O desejo do desapego.
    Vi...
    O poder do ego,
    A súplica de um alto patamar,
    A vitória depois de esmeros,
    O belo ato de ressaltar.

    Mas de que adianta?
    Senti, ouvi e vi...
    De tudo um pouco, quase tudo.
    Adiantaria sentir sem ouvir?



    Mas será que alguém ainda me escuta?
    Respeita minha humilde súplica?
    Ou não entendeu o que quis dizer?
    Ou simplesmente não deseja me responder?

    Eu digo mais uma vez
    Eu digo até fazer efeito
    Eu digo mais uma vez
    Ainda exijo meu respeito

    Eu vi os melhores sendo superados
    Eu vi os piores sendo ridicularizados
    Eu vi os quietos sendo criticados
    E calei-me.

    Calei-me.
    Como todos.
    Alguém me explica, por favor...
    Isso me traz um pavor!

    Diz, solta a emoção,
    Porque acha que nossas vozes
    Não socorrem o coração?
    ~~Ana Beatriz Ferreira Sousa~~
  • Devaneio 1.3

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            Capítulo 3
    Minha mulher morreu em um assassinato fui acusado como principal suspeito. Fui preso por cometer um crime que nunca cometeria em minha vida. Na prisão fui esquecido.Fiquei pagando pelo ato sozinho naquele inferno.
             Agora, oito anos depois, saí e jurei para mim mesmo que vou encontrar o real assassino de minha esposa e torturá-lo até não restar um pingo de sangue em seu corpo. Uma coisa dentro de mim mudou e até dois meses atrás não tinha percebido que fiz o mesmo crime do qual fui acusado, com um simples garoto cuja a idade nem se sabe. Não sei nem seu nome para falar a verdade... Só fiz...
            Fiz esse ato brutal quando estava indo á procura da minha segunda mulher e meu filho. Emily e Albert. Só que já se passaram semanas e não tenho nem sinal deles. Meu dinheiro está caindo tão rápido quanto o sangue de uma pessoa sendo morta à facadas,e só tem uma pessoa em tudo isso que pode me ajudar...















      Devaneio 
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    O Dia estava nebuloso e calmo. Até parecia que o sol tinha dormido um pouco mais que o esperado e como o horário da lua não estava nem perto de chegar, pois ainda eram nove da manhã, ficava um dia sem sol. Sentado no banco daquela praça fria e enevoada, estava um cara alto, com cabelos castanhos, escrevendo algo que nem ele devia entender. Era de “uma aparência um tanto estranha”, pensavam as duas únicas pessoas ali presentes, que estavam no canto contrário, olhando suas crianças se divertirem. Da névoa densa saíra outro homem, que logo sentou ao lado do estranho de cabelos castanhos.                            ***
    - Nick, precisamos conversar. - Nick para de escrever subitamente e direciona seu olhar de tristeza para aquele que lhe falara. Logo dá um sorrisinho fechado, e nesse momento, dentro de seu peito se acendia uma chama de esperança.
    - Kevin... - Antes que Nick terminasse a frase,  Kevin continuou.
    - Nick, é a ultima vez que encubro você. Dessa vez foi muito pior! Você assassinou uma criança de apenas seis anos! - Nick nem ousou responder. - Já bastava você agredir sua própria mulher e eu encobrir.   
    - Ma... mas é isso que os amigos fazem: ajudam os outros. 
    - Não um amigo policial que você nem ousou “reconhecer” no aeroporto . – Kevin continua sem temor e a chama de esperança que acabara de nascer em Nick se apaga tão rápido como surgiu – Quando te vi, já soube que tinha sido você quem o havia matado. Mas Nick, por que fez aquilo com o pobre garoto ?   
    - Não sei , simplesmente fiz...         
    - Como assim não sabe?! Cara, você matou uma criança! Que mal ela fez á você?
    - E que mal fez Lisa ao mundo?! Matei aquela criança e não me arrependo por isso. Do mesmo jeito que ela era inocente, Lisa também era. Eu fiz isso pra uma outra pessoa sofrer do mesmo jeito que eu sofri, indo para a prisão, sendo punido por algo que não fez... Bem, não é sobre isso que quero falar. É sobre Emily e meu filho .
    - E por que diabos está atrás de Emily, que esqueceu você dentro daquela prisão após um casamento as pressas antes de seu julgamento final?      
    - Por que... por que eu a amo! Por este motivo estou no Brasil, correndo atrás da única coisa feliz que sobrou em minha vida. Se você, Kevin, meu melhor amigo, me ajudar a encontrá-la, ela e meu filho, juro que sumo da sua vida o mais rápido possível e não causo mais problemas.
    Kevin passou alguns minutos pensando e depois concordou. Os dois trocaram números de telefone e saíram em direções opostas.              
                                                                    
                                                 ***
    Lisa, algo feliz aconteceu em minha vida depois de sua perda. Kevin vai nos ajudar a encontrar Emily e meu filho.  E o que ele quer em troca ? Nada demais.
                                                 *** 
             Nick faz uma pausa para atender a campainha de seu quarto.      
    - Serviço de quarto - as únicas palavras ditas pela camareira do hotel, antes de ignorar a presença de Nick plantado na porta, e entrar sem pedir permissão.
    Nick deveria estar feliz por ter serviço de quarto, já que com medo de seu dinheiro acabar, se mudara para um hotel duas estrelas no subúrbio do Rio.
             Com a camareira em seu quarto, suas coisas que estavam uma verdadeira bagunça agora se encontravam em perfeita ordem em questão de segundos. Foi quando Nick percebeu a beleza da pequena jovem empregada, que tinha pele branca, olhos claros e uma tonalidade no cabelo parecida com a de sua Emily.
             Quando percebeu, já estava na cama junto com a branca de olhos claros.       
      -Bem... merda! – exclama a jovem ruiva.        
     - O que? - Nick pergunta e para rapidamente, indo beijá-la no pescoço.
     -Eu sinto que vou gostar realmente de você. - Nick para de beijá-la, a fim de ouvir essa doce frase olhando-a cara-a-cara.     
    -Isso é um problema? - pergunta ele, agora segurando os cabelos ruivos da jovem.
    -É, se você vai partir meu coração. 
    Levantando-se subitamente, com uma expressão nítida de felicidade estampada em seu rosto e ainda alisando levemente o cabelo da camareira, Nick vai até o criado mudo que está ao seu lado e pega uma tesoura. Com naturalidade e sem hesitar, enfia-a várias e várias vezes no meio da garganta da jovem .     
    Nick para de repente. Ignorando as batidas na porta, que aumentam a cada minuto, ele puxa a camareira pelos cabelos, até a banheira, e a joga lá dentro. Neste momento, ouve-se um estrondo na porta, e uma voz conhecida fala alguma coisa de Emily. Quando Nick levanta a cabeça, parando o ato devastador que estava a cometer, vê Kevin parado com um semblante surpreso e assustado.  Kevin olha para ele e joga uns papéis.
    - Aí está, o endereço do “amor da sua vida”! – exclamou Kevin com lágrimas no rosto. -Essa foi á gota d’agua. – disse enquanto saía pela porta do banheiro.
    - Espera Kevin! – disse Nick avançando bruscamente em sua direção, e em poucos segundos, a tesoura já suja do sangue da camareira, estava cravada em seu peito.
    Foi uma morte rápida. Sem tempo de gritar. Sem tempo de se arrepender.
                                                      ***
    Meu Amor, hoje uma coisa me fez voltar atrás e refletir sobre meu amor por vocês, Lisa e Emily. Percebi que amo vocês duas igualmente e que meu coração é divido entre vocês. Não suportaria mais ninguém estragando esse amor. Tenho dois corpos na minha banheira por causa desse relacionamento. Ambas as pessoas, matei para continuar com o meu objetivo de ser feliz. Sempre quis saber o que se passa na mente de um assassino. Agora eu sei.           
    Os amigos de Kevin não param de chamar ele pelo radio. É melhor eu me livrar dele antes que descubram que ele está no inferno.
    ***
    90min depois.
      - POLÍCIA! ABRAM A PORTA!!!
    Nick abre a porta calmamente, segurando em uma das mãos uma xícara de porcelana com café quente.
    -Senhor, rastreamos a uma hora o radio do policial Kevin Stiven, e ele se encontra aqui.

  • Perdição 1.3

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    Anteriormente em "Perdição":
    - Só me diz uma coisa: por que terminamos mesmo? Você de repente acordou e me mandou uma mensagem: "preciso falar contigo". Daí eu vou à sua casa SUPER preocupado e você, ao abrir a porta, diz que não estamos mais juntos. Sério, me explica o que aconteceu, por favor... - implora ele, com a voz em tom baixo e com os olhos perdendo o brilho.
    - Quer que eu diga o motivo? Certo, lhe direi. Nunca te amei e sempre que você me beijava eu sentia nojo, tanto nojo que tinha vontade de vomitar. Eu não suporto a sua presença.
    Matteo larga o braço dela lentamente e, mesmo sem acreditar em nenhuma palavra, fica extremamente triste.
    Mas era mentira, tudo mentira. A mais dolorosa mentira. Ela mentia para se proteger das próprias consequências que aconteceriam se ele soubesse o verdadeiro motivo.
    Terceiro Capítulo
    - Olha, se você pensa que me convenceu, está totalmente errada. Eu sei que você gosta de mim, e não deixou de gostar, mas algo aconteceu e quando eu descobrir o que foi vou fazer até o impossível pra te ter de volta. - diz ele ao ultrapassar Luna, abrir a porta e ir embora.
    Dezesseis ficou ali, olhando enquanto ele sumia no corredor. Ela sofria todos os dias e todas as noites, a cada hora, minuto e segundo, mas jamais iria/queria voltar atrás. Ao acordar de seu flashback de lembranças de quando eles namoravam se dirigiu à sala do professor de história.
    Bateu uma vez na porta.
    Duas vezes.
    E na terceira ele abriu com um envelope amarelo queimado lacrado na mão.
    - Agora suma da minha vida. - disse ele enquanto entregava-o - Só avisando que irei sair da cidade hoje à noite e ninguém irá me achar, nunca mais. Não com esse nome, nem com essa aparência. Espero que nunca se esqueça daquela noite, pois eu não esquecerei.
    Aterrorizada, a garota apenas guarda o envelope em um dos bolsos de sua mochila e dá de ombros seguindo a caminho da porta da escola. Bem, aquele dinheiro pagaria seu passaporte para a quase liberdade, mas a comemoração não veio... Matteo não saía da cabeça. O caminho para casa foi totalmente depressivo, por dois motivos: indecisão e Olga.
    ***
     Eles namoravam desde nona série, uns dois anos e meio, mais ou menos. Conheceram-se no nono ano do ensino fundamental, logo quando ele mudou de escola. Sempre andavam grudado um no outro (e com Ester e Diogo), vinham e voltavam da escola juntos. Olga, por esse tempo, largou o pé de Luna e deixou um pouco de sua arrogância de lado. Susana, a mãe dele, adorava (quer dizer, ainda adora) Luna. Ela terminou com ele há dois meses.
    ***
    Na quinta-feira a nossa querida Luna já havia telefonado e marcado o aborto numa clínica na ala mais "estranha" da cidade. Depois de uma aula extremamente sobre a Idade Média, ela parou de admirar o método genial do novo professor de história, Deric Shilder. Joga a mochila sobre os ombros, passa no armário pra deixar um livro e se dirige à mesa de sempre, onde encontrará seus dois melhores amigos.
    - Larga o celular Ester! - reclama Diogo ainda entalado com seu sanduíche de presunto com queijo.
    - Coisa irritante! - responde ela voltando a trocar SMS com algum bonitinho.
    - Ei Ester, preciso que me faça um favor. - diz Luna - Poderia sustentar uma mentira à minha mãe? Direi que vou passar o fim de semana na sua casa, mas não vou. Preciso resolver umas coisas, topa?
    - Três coisas: e se sua mãe ligar? E se ela na minha casa? E se ela ligar pra minha mãe? - responde ela com um olhar desconfiado e pensativo enquanto larga o celular na mesa e desembrulha um sanduíche de frango.
    - Uma resposta: estamos falando da minha mãe, ela não se importa comigo. Topa ou não topa? - pergunta dezesseis novamente. Aprendera a ser insistente com o pai.
    - Se é assim, sim... Aliás, o que custa não fazer nada? - concorda Ester limpando migalhas inexistentes da mesa.
    Fim da aula. Fim de um dia monótono e sem graça.
    Casa. Banho. Frutas. Quarto.
    Ainda era sexta. Um pouco menos de vinte e quatro horas e pronto!
    E lá estava ela com um moletom branco com estampas de notas musicais e um short frouxo de tecido azul claro, arrastando umas chinelas brancas e um par de fones de ouvido direto pra varanda. Música alta e solidão... Pra quê melhor? Precisava se preparar psicologicamente ou sairia traumatizada para o resto da vida daquela mesa de cirurgia.
     Enquanto o Arctic Monkeys compartilhava toda sua música com a dezesseis, Olga e Dixie iam saindo para uma apresentação de uma peça de teatro na escola.  E, na melhor parte de Mad Sounds, o celular vibra e assusta a garota de pensamentos distantes.
    SMS.
    Matteo.
    Coração batendo cada vez mais forte.
    "Seria bem melhor você largar essa marra toda, descer e vir me contar o que aconteceu... Sinto sua falta".
    Ela, como qualquer um faria, olha para frente de sua casa e encontra o Land Rover preto parado.
    - Vem aqui! - grita ele encostando-se ao carro.
    Luna tira os fones do ouvido, adentra seu quarto novamente e larga o celular encima da cama. Não consegue esconder o sorriso esboçado em seus lábios ao descer cada degrau da escada.  Passa na cozinha e pega uma maça pra mordiscar enquanto enrola ele na conversa séria e resolve abrir a porta e encarar aqueles olhos brilhantes e aquela beleza estonteante.
    - Quer entrar? - pergunta ela quase sem medo de contar todos os motivos, de tudo.
    Matteo logo se aconchegou no sofá da sala e bateu a palma da mão no espaço ao seu lado, acenando para que Luna sentasse ao seu lado.
    A garota estava nervosa. Continha-se em sua própria angústia e tentava parar a tremedeira nas mãos.
    Chegara a hora.
    Tudo iria ser revelado.
    Medo definia tudo.
    - Bem, eu acho que meus sentimentos por você já estão bastantes definidos. Nunca escondi isso, desde que tive certeza, mas... - diz ele antes de ser interrompido.
    - Mas eu sou uma completa idiota. - sussurra Luna ao apoiar os cotovelos nos joelhos e cobrir o rosto com as mãos permitindo que o cabelo longo e loiro invada sua face.
    - Eu te amo... - sussurra ele de volta.
    - Mas não deveria amar. - completa ela ao olhá-lo e derramar uma ou duas lágrimas quase sem querer.
    - Preciso que me conte o que há com você. Por favor, eu não aguento ficar nos bastidores da sua vida enquanto está cheia de problemas, os quais parecem realmente ser graves. Luna... O que aconteceu? - suplica Matteo ao encostar as mãos nas costas dela.
    Ela desmorona, simplesmente não aguenta. Ele apenas a entrelaça com seus braços e deixa que ela chore, mesmo sem entender nada.
    - Eu... Eu tenho que te contar uma coisa... Mas promete não ficar com raiva de mim? - revela ela entre mais soluços.
    - Prometo. - diz ele olhando nos olhos dela.
    - Conhece meu professor de história, né? - ela enxuga as lágrimas - Ele vinha dando encima de mim há muito tempo... Desde o primeiro ano que eu o conheci, mas não falei nada pra ninguém, pois pensei que fosse só mais uma brincadeira ou algo do tipo. - ele franziu a testa - Há exatamente três meses atrás, ele disse que queria discutir um trabalho comigo e pediu pra que eu ficasse depois da aula, lembra? Foi no dia que me atrasei para o jantar na sua casa. Ele... - Luna começa a chorar novamente - Ele fechou a porta e me agarrou.
    Matteo levanta do sofá em uma velocidade extremamente rápida que só deixa a garota mais desesperada.
    Era o fim.  
    - Você está dizendo que foi abusada? Por que não me contou antes?  Por que não o denunciou? Por que não fez absolutamente nada? POR QUÊ? - exalta o garoto desesperado, com raiva, confuso.
    - Ele me ameaçou. Disse que se contasse a alguém a próxima seria Dixie... Eu só não queria que ninguém soubesse, nem que aquilo se repetisse. Muito menos com as pessoas que eu amo. - explica ela não conseguindo olhar nos olhos dele.
    Luna olha dentro dos olhos raivosos dele.
    - E por isso terminou comigo? - pergunta ele ao segurar a chave do carro.
    - Sim. Você foi o primeiro, a única pessoa em que eu confiei e amei para permitir que me tocasse, mas... - ela põe as mãos nos ouvidos - Mas depois de tudo eu não conseguia viver ao seu lado. Foi uma traição, mesmo que eu não quisesse. Olha se quiser sair por aquela porta, contar pra todos e nunca mais olhar na minha cara eu juro que vou entender. Eu mereço isso, eu mereço ser humilhada. EU fui burra, EU fui extremamente idiota.
    Ele fica calado, surpreso, irritado. "A culpa não foi dela."

    Ela chora se sentindo pequena, vulnerável e infeliz. "Nós nunca mais ficaremos juntos, ele vai me odiar pra vida toda."
  • Perdição 1.2

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     Anteriormente em "Perdição":
    - Já decidiu o que irá fazer? - inicia-se o diálogo tenso.
    - Sim, preciso de quatrocentos dólares... - fala a dezesseis sem hesitação.
    - Não tenho esse dinheiro.
    - Como assim? Onde acharei quatrocentos dólares para um ABORTO? - preocupou-se a garota apresentando fiapos inimagináveis de indignação.

    - Fale baixo! Não queremos que ninguém saiba o que aconteceu... Certo! Pagarei isso, será um problema a menos na minha cabeça. Venha me procurar após a aula e lhe darei um envelope com o dinheiro. - concordou o professor coçando a barba ligeiramente branca.

    Segundo Capítulo
    Depois dali o dia já não foi mais o mesmo, talvez a ansiedade para receber o dinheiro que pagaria sua viajem a libertação tenha contribuído com isso. Luna em seu ápice enjoativo retornou ao seu caminho comum: sala de aula.
    Francês, Geografia e Biologia. Três aulas intensamente interessantes... Para dormir! As três primeiras aulas antes do primeiro intervalo eram reservadas perfeitamente para deixar o sono em dia, até porque ela mal dormia em casa e não podia andar mais morta-viva do que no presente. Mas, por outro lado, aquilo nunca havia prejudicado a garota em seu rendimento escolar. Sempre conseguia um jeito de conseguir o conteúdo com algum conhecido que se dava o trabalho ao menos de copiar o que estava escrito na lousa.
    - Vamos para o refeitório? Tem sanduíche hoje... - convidou Bete Steve, a garota de moletom que sentava do lado de Luna.
    - Não, obrigada. Trouxe comida de casa.
    E ali ficou por mais duas aulas (Artes e Literatura) que antecediam o almoço apenas mordiscando uma maça. Sentada esperando a hora da saída. Levantou-se apenas uma vez para ir ao banheiro vomitar no meio da aula de Artes. "Odeio quando Bete passa esse perfume, mais que droga".
    - Quem terminou o texto que eu pedi na aula passada? - perguntou o senhor Roy, professor de literatura. - Bem, já que ninguém se manifestou eu vou escolher alguém para ler aqui na frente... Que tal você Matteo?
    - Pode ser. - respondeu o menino alto e loiro que sentava na primeira carteira da fila de Luna. - O título é Perdição.
     "Seria o meu maior erro um dia ter te olhado? Acontece... Eu me perdi no seu olhar profundo, na sua mania de abaixar a cabeça quando eu começo a te elogiar demais, na sua destreza. Perdi-me na tua confiança, não lembro quando nem por que, mas acho isso um máximo. Sempre fomos perfeitos um para o outro e por um longo tempo demos certo. Eu fazia questão de tentar ser o motivo do seu sorriso e não o das suas lágrimas. Passei um tempo tentando te convencer que a coisa mais certa que tínhamos a fazer era ficarmos juntos... E assim foi. Por muito tempo. Mas agora você se perdeu de mim, e eu não sei por que. Só sei que te quero de volta. Quero você entre os meus braços novamente. Quero sentir que você é só minha que eu sou só seu." - leu ele.
    Luna abaixou a cabeça depois daquilo. Cada palavra lida era uma facada e ela sangrava saudade.
    - Aposto que a nossa aula Luna não gostou do seu texto Matteo... Algo a dizer Luna? - comentou o professor.
    - Nada... - respondeu a garota ao ver que todos da sala direcionavam seu olhar para ela.
    - Gostaria de ler o seu texto?  - continuou Roy.
    - Não, eu não fiz o texto.
    - Mentira! Ela fez, está aqui! - gritou Bete pegando o caderno de Luna e entregando-o ao professor.
    - Lerei o texto da nossa cara Luna. O título é Ilusão. - revelou Roy para o fracasso de Luna -
    "Os meus óculos mais uma vez estão nublados por causa do frio obscuro que se agarrou ao meu coração. Ilusões... Sempre são elas que conseguem acabar com meus dias mais felizes de forma surpreendedora, mais DO NADA do que um BEM QUE TE AVISEI! Mas desta vez, tudo bem por completo. Pela primeira vez, eu não sei dividir a verdade da mentira... Se é que houve mentira nessa história. Foi mais confuso e mais estranho do que todas as outras de antes. Foi tão estranho que não lembro mais nem o que aconteceu direito. O sol ardente e incrivelmente claro vem me lembrar de que ao invés de reclamar da vida, deveria vivê-la intensamente. Quem sabe, correr riscos calculados com resultados satisfatórios... Quem sabe? Os amigos que me cercam, fazem-me sorrir, mas esse sorriso são só curvas e rugas que meu cérebro quis executar e que meu coração não quer absorver. Deve estar difícil de entender meu raciocínio meu louco e cheio de particularidades habitantes da minha mente. Imagino a tentativa de compreender meus atos e dizeres sem sentido. Aliás, o que foi verdade e o que foi mentira? Talvez os momentos tenham sido verdades e as saudades sejam só mentiras que conto a mim".
    Após a última frase o olhar do nobre professor foi o mais confuso e surpreso possível. Todos, novamente, fitavam a garota que se encolhia na cadeira.
    - Incrível! - exclamou Matteo ao aplaudir de pé.
    - Obrigada... - respondeu a dezesseis tentando ser um pouco mais sociável, mas sua voz foi abafada pelo sino que anunciava a hora do almoço.
    Todos saíram rapidamente da sala e Luna, cabisbaixa, levantou da carteira, jogou a mochila no ombro direito e foi pedir o seu caderno de volta ao professor.
    - Ei! Pode me dizer o que tem de errado no meu texto? - perguntou Matteo segurando o braço de Luna assim que ela saiu da sala.
    - Superficialidade. - respondeu a dezesseis virando e fitando aqueles olhos vibrantes e sedutores.
    - Considera-se superficial? - continuou ele.
    - Não, mas o que isso tem haver?
    - Fiz aquele texto pensando em você. - explicou ele aproximando-se dela mais ainda.
    - Me larga! Vai encher outra pessoa, por favor. - falou Luna com uma expressão de nojo autêntica.
    A dezesseis caminhou pelos corredores e desceu escadas até chegar ao refeitório daquele manicômio disfarçado. A figura saltitante de Ester acena assim que avista a amiga e longe.
    - Que cara é essa de "vou cortar os pulsos"? - zombou Diogo, o amigo de infância alisando os fios do cabelo liso e negro.
    - Matteo, sono, fome, mais sono, mais fome... Espera, já falei fome? - brincou Luna.
    - Vocês fiquem aqui um instante! Vou pegar um negócio no armário. - sussurrou Ester.
    ***
    Diogo: dezessete anos; terceiro ano do ensino médio; cabelos castanhos e olhos bem azuis, quase cinza; meio musculoso (talvez fosse resultado das variadas artes maciais que praticava) e alto. Era comtemplado com uma beleza genuína e evidente. Havia conhecido Luna no playground da escola em que estudavam aos cinco anos e são confidentes e quase irmãos desde então. Namora, atualmente, Rebecca Lincoln (a filha do chefe da mãe dele). Ela é, relativamente, uma garota egocêntrica e faz o tipo "faça o que eu quero e tudo ficará bem".
    Ester: dezessete anos; terceiro ano do ensino médio; cabelos pretos e longos; magra, meio baixa e perfeitamente sociável. Conheceu Luna e Diogo aos 10 anos, quando os dois mudaram para a escola que ela estudava.  Nunca se relacionou bem com seus namorados e é por isso que sempre procura renovar seus parceiros de noitas. Podemos defini-la como a clássica "vadia extrovertida".
                                               ***
    - Diz pra Ester que eu ligo pra ela depois. Tenho que ir pra sala terminar um trabalho. - falou Luna enquanto guardava a vasilha em que tinha colocado uma maçã.
    - Já vai? Que é isso guria? Pode me contar o que está acontecendo de vez... Aliás, juro que vi você falar no nome do Matteo. Por que não dá uma chance a ele? - insiste Diogo.
    - Sério preciso ir. -
    - Está certo. - respondeu Diogo fazendo que sim com a cabeça.
    Pegar o caminho de volta pra sala era cansativo demais e passar no banheiro já era a rotina.  Lavar o rosto e retocar a maquiagem composta de lápis de olho e bastante rímel era extremamente necessário e, para ela, era como se seu escudo forte e obscuro se formasse novamente.  
    O sino toca anunciando o fim da última aula, o fim daquele dia na escola, o fim de problemas com pessoas irritantes... Ou não. A nossa queridinha garota de dezesseis anos já estava ao virar a maçaneta da porta de madeira quando Matteo segura em seu braço novamente e diz:
    - Posso te dar uma carona? Adoraria passar na sua casa e contar histórias pra Dixie...
    - Se toca garoto! Não estamos mais juntos, não quero carona e muito menos você na minha casa. - responde ela ao revirar os olhos.
    - Só me diz uma coisa: por que terminamos mesmo? Você de repente acordou e me mandou uma mensagem: "preciso falar contigo". Daí eu vou à sua casa SUPER preocupado e você, ao abrir a porta, diz que não estamos mais juntos. Sério, me explica o que aconteceu, por favor... - implora ele, com a voz em tom baixo e com os olhos perdendo o brilho.
    - Quer que eu diga o motivo? Certo, lhe direi. Nunca te amei e sempre que você me beijava eu sentia nojo, tanto nojo que tinha vontade de vomitar. Eu não suporto a sua presença.
    Matteo larga o braço dela lentamente e, mesmo sem acreditar em nenhuma palavra, fica extremamente triste.

    Mas era mentira, tudo mentira. A mais dolorosa mentira. Ela mentia para se proteger das próprias consequências que aconteceriam se ele soubesse o verdadeiro motivo.